terça-feira, 9 de março de 2010

Detalhes





É curioso como os detalhes fazem a diferença. Isso todo mundo sabe, é óbvio. O que talvez não seja tão escancarado é que os detalhes de algo que já passou ainda fazem diferença. E machucam.

Hoje eu fui a um mercado, na verdade fui NO mercado. Sabe aquele super mercado que você vai com seu namorado, sua esposa, seu melhor amigo? Aí um dia eles vão embora da sua vida, e o mercado fica! Pois é, eu estava nesse mercado.

Como se não bastasse ser a véspera do aniversário do ente falecido, ainda tinha que olhar as prateleiras, lembrar das piadas, pensar em como é CHATO ir ao mercado só. Então pensei em comprar queijo, mas sempre que compro queijo estraga, porque é muito queijo pra uma pessoa só, não dá pra comprar pouco queijo: "Oi, será que o senhor pode me dar 100g de queijo? " isso não paga a embalagem gasta e o dano ecológico por causa de 100g de queijo. Além do detalhe da fila, nunca era eu quem ficava na fila, sempre tinha uma razão pra uma discussão com o atendente, às vezes comprávamos tudo demais e ríamos depois.

Então eu tive uma crise de ansiedade... Bolinhos prontos daquela marca que sempre roubávamos do mercado, comíamos enquanto fazíamos compras. Era uma forma de duas pessoas civilizadas burlarem a lei, se acharem Bonnie e Clayde. Era nossa rotina! E quando eu os vi, eu os desejei e os comi... só que dessa vez eu paguei. Não tinha mais graça, mas tinha o sabor, o detalhe da lembrança, a tristeza veio doce.

Ao sair do mercado, DO mercado, quase fui atropelado de tão absorto que eu estava. Entrei no taxi com a sensação de "segurança". Nunca pegamos um taxi juntos, sem detalhes, sem lembranças. Então, ironicamente, Marisa Monte me apunhala pelo rádio

"Não é fácil
Não pensar em você
Não é fácil
É estranho
Não te contar meus planos
Não te encontrar

Todo dia de manhã
Enquanto tomo meu café amargo
É, ainda boto fé
De um dia te ter ao meu lado

Na verdade eu preciso aprender
Não é fácil, não é fácil

Onde você anda
Onde está você
Toda vez que saio
Me preparo pra talvez te ver

Na verdade eu preciso esquecer
Não é fácil, não é fácil

Todo dia de manhã
Enquanto tomo meu café amargo
É, ainda boto fé
De um dia te ter ao meu lado

O que eu faço
O que posso fazer?
Não é fácil
Não é fácil

Se você quisesse ia ser tão legal
Acho que eu seria mais feliz
Do que qualquer mortal

Na verdade não consigo esquecer
Não é fácil
É estranho"

Senti que eu era especial, e que alguém lá em cima gosta de me ver sofrer... porque depois dessa veio alguma do "Simple Red" que ele diz que está "moving on" (seguindo a vida) e uma do Caetano perguntando "Como posso te esquecer?". São detalhes do dia e do momento que não dá pra não pensar que alguém do outro lado gosta de brincar com nossos sentimentos.

O bom, de fato, é que eles, os detalhes, doem cada vez menos com o passar do tempo, e quando o relógio vira, as folhas do calendário caem, o vento sopra; a dor só chega quando realmente nos forçamos a lembrar. Em mim as lembranças do primeiro casamento chegam a ser um incômodo, nem são alfinetadas, espero que o segundo casamento seja mais rápido ainda pra esquecer tudo, mas ainda assim, por mais que pedras nos rins só incomodem antes de doer... elas ainda doem um dia.

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